terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O regresso do lápis azul

Numa altura em que quase se censura as sátiras carnavalescas, a propósito do palhaço do ano, o Magalhães, eis que a nossa força de segurança pública de Braga, decidiu dar uso à afia lá da esquadra e acusar um livreiro de deter material considerado de carácter pornográfico! Estava a vender algumas publicações sobre o pintor Courbet, que apenas e só, é considerado como percursor do movimento artístico do Realismo! Que nem censura em período do nosso Estado Novo, retirem-se as imagens das obras de Courbet dos olhares do povo! Este comerciante foi multado e ficou sem a "carga perigosa"! Mas os inegrúmenos responsáveis por este regresso do "lápis azul", são assim tão incultos e estúpidos? O que será que vem a seguir? Introduzir a burka na população feminina portuguesa? Eliminar as esculturas do êxtase de Santa Teresa, afinal estas representam uma mulher no limiar da satisfação prima, do orgasmo que se aproxima sub a forma da flecha que em breve se lhe espetará na carne, trazida pelo Anjo! É mais agreste que as vulgares coxas e vagina da "Origem do Mundo" de Courbet!
Se as dúvidas pela existência da Maquinada existissem, aqui mesmo seriam desfeitas, pois esta é boa demais para ser verdade!

Ora sendo a minha formação nesta área, onde a reflexão sobre a iconografia das representações, deveria ser o meu ganha pão, neste país de cada vez mais meia dúzia deles, pergunto-me: Estarei eu licenciado em interpretação e investigação pornográfica? Será isto um crime? Deverei eu viver uma vida dupla, em que visitarei sorrateiramente museus e exposições, para apreciar obras de arte! Oh sacrilégio! No outro dia assisti a um espectáculo de dança contemporânea, onde alguns dos interpretes se despiam integralmente em palco? Poderei ser um tarado sexual? Terei eu ainda salvação? Será que é melhor fugir do país, não vá ainda ser integrado num daqueles planos da novas oportunidades, de modo a ser reprogramado e inserido na sociedade?
Tantas questões.... mas quem me manda a mim ler o Público carago!!

Mas porque gosto de viver no limite e antes de acabar de fazer as malas para fugir do país, partilho aqui uma breve descrição do que aconteceu com Santa Teresa. É uma mera interpretação iconográfica da obra (não sei o autor), mas pelo andar da carruagem consegue ser mais pornográfico que o diário da revista Maria...

"Já passava pouco das 3:00, todo o mosteiro estava silencioso, todos dormiam, até Teresa, estava profundamente num sonho onde via um mundo estranho governado por cavalos de metal com rodas e cheio de gigantes cubos de vidro, mas no meio disto tudo, sentiu uma vontade de acordar. Ao abrir os olhos, viu que todo o seu quarto estava iluminado, como se de dia fosse, ignorou essa primeira impressão, até que a ideia lhe atingiu o mais profundo do seu subconsciente, e ela levantou-se da cama. À sua frente, a imagem que mudou toda a sua vida e com ela a história do mosteiro de S. Euclides.

- Teresa... - disse-lhe a voz do ser iluminado que lhe aparecia à frente.
- Chegou a minha hora senhor?
- Não, venho aqui para encher o teu vazio, já o tens sentido à algum tempo. Deus ouviu as tuas preces e encarregou-se de me enviar para te ajudar.

Teresa, um pouco incrédula com a situação, esfregou os olhos para tentar acordar daquilo que só podia ser um sonho, mas não resultou, o ser iluminado ainda se encontrava à sua frente.

- E como pensas encher o meu vazio?
- Deus entregou-me esta lança para que possa satisfazer o teu mais eterno desejo.

Teresa não sabia o que pensar, só quis fechar os olhos e rezar, e entregar-se à sua morte. O Anjo, apontou para o seu ventre, e lançou a lança. Contudo, Teresa não sentiu o seu ventre a ser trespassado mas sim a sua zona sagrada, que reservara toda a sua vida para servir Deus quando o momento fosse o certo. A sua primeira ideia foi que a sua santidade e pureza estava a ser violada, mas por um servo do seu Senhor, a seu pedido, tal como ele lhe tinha dito, para satisfazer os seus desejos mais íntimos. E quando finalmente se apercebeu, reparou que esses desejos estavam a ser mesmo realizados. O acto durou algum tempo, e no fim ela sentia-se como que rejuvenescida, o seu vazio tinha sido preenchido, e logo por um ser iluminado, um Anjo, um servo do seu Deus. Ela levantou-se para o agradecer, mas já ele tinha partido, então deitou-se e deixou-se adormecer.

Na manhã seguinte, Teresa contou o seu encontro à Madre, que duvidando o sucedido decidiu viajar com ela até ao Vaticano para poder confidenciar o "milagre" a alguém capaz de o compreender. O êxtase de Santa Teresa, tornou-se um dos contos obscuros escondidos pela Igreja."

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Maquinanda em tom nostálgico...

Ainda a propósito de Foucault e da suas reflexões sobre o conceito poder, entendo ser pertinente partilhar aqui, algumas demonstrações práticas desse mesmo poder nos dias que correm. O poder como uma relação de forças, e não o poder enquanto personificação numa única figura. Durante os últimos oito anos, assistimos a uma personificação desta última perspectiva, falo concretamente do reinado republicano de um certo indivíduo natural do Texas (USA), no qual foi depositado todo o poder de uma nação, após um processo eleitoral conturbado e polémico (lembram-se?). Será este um retrocesso no pensamento contemporâneo dos nossos dias? Espero que não, que tenha sido apenas um episódio esporádico e isolado, que rapidamente deverá ser guardado nos anais da historiografia.

Ora ultrapassado que está este pseudo período das Trevas, o poder sofre então uma democratização (aparente afirmo, porque nem um mês leva o senhor “sim, nós podemos”, à frente da casa que melhor contrasta com o seu tom de pele), estando agora distribuído pelo povo americano. Mas como bom português que sou, o meu lado nostálgico e fatalista, hesita ainda em libertar-se da figura que até muito recentente encarnou o poder da máquina norte-americana. O poder associado a um único indivíduo, que assegura ter dialogado com o Deus (o próprio, quem mais!) que lhe terá revelado a localização de armas de destruição maciça no Iraque (que nem a ONU conseguiu encontrar), que jurou em cima dos escombros do WTC lutar contra o Eixo do Mal por defesa da supremacia e do poder norte-americano, resultou numa catarse populista, onde o espírito “democracy kicked in” parece ter tocado até os mais distraídos no que toca às lides políticas. O tempo encarregou-se de provar, que quando o poder é concentrado numa única pessoa, a tendência é para as coisas não correrem da melhor forma... Como seria de esperar, depois de ter arranjado diferendos com diversos países, Bush viu-se abraços com um sistema financeiro em colapso, com um modelo social instável e desiquilibrado, mas não será apesar de tudo isto o que eu recordarei com nostalgia, mas sim da sua capacidade ímpar em propocionar-me aquele momento de descompresão, aquele momento Maquinanda!
Mesmo assim, não resisto em partilhar aqui alguns instantâneos, deste que foi de certa forma, a grande fonte primária de poder para os humoristas norte-americanos e que nos divertiu com as suas alucinantes e mais improváveis atitudes.

É pois com um misto de saudade e nostalgia que recordo e aqui vos deixo, algumas das mais belas e interessantes Maquinandas do recém enterrado poder norte-americano!